Biografia de José de Anchieta

 

Você sabe quem foi José de Anchieta? Hoje considerado santo pela Igreja Católica e padroeiro do Brasil? Além de sua missão evangelista, José de Anchieta foi um dramaturgo, gramático e poeta nascido nas Ilhas Canárias, noroeste da África. Foi o autor da primeira gramática da língua tupi e um dos primeiros autores da literatura brasileira, para a qual compôs inúmeras peças teatrais e poemas de teor religioso e uma epopeia.

Além disso, José de Anchieta, ajudou na fundação de São Paulo, Rio de Janeiro e da cidade de Anchieta, no Espírito Santo. Suas obras e seu legado estão espalhados por todo o mundo. Em Anchieta, onde fixou raízes e faleceu, deixou muitas marcas que compõem a cultura local.

Confira a trajetória de sua história, divulgada pelo Santuário Nacional de Anchieta.

A infância e a Juventude

José de Anchieta nasceu na cidade de San Cristóbal de La Laguna, na ilha de Tenerife, arquipélago das Canárias (noroeste da África), pertencente a Espanha, no dia 19 de março de 1534. Foi o 3º filho de Juan Lopez de Anchieta, natural da região Nordeste de Espanha, e de Mência Diaz de Clavijo y Lharena, descendente dos conquistadores espanhóis das ilhas, que enviuvara ainda jovem do bacharel Nuno Nunez de Villavicencio, de cujo casamento resultara uma filha e um filho. Depois de José, nasceram mais sete irmãos, perfazendo uma família de doze filhos.

Aos seis anos de idade foi encaminhado para a escola conventual dos dominicanos, próxima de casa, onde aprendeu as primeiras letras, a aritmética e se iniciou no latim. Aos 14, deixou sua terra natal na companhia de seu irmão mais velho, Pedro Núnez, rumo a Coimbra, em Portugal.

José foi aluno do recém-fundado Colégio das Artes. Lá, aprendeu a falar o latim e também o português. Data deste período seu apelido de Canário, referência de duplo sentido a sua origem e ao pássaro homônimo, pela naturalidade com que compunha seus poemas.

No Colégio e no próprio ambiente estudantil de Coimbra teve contato com as cartas dos padres Francisco Xavier, enviadas da Índia e as de Manuel da Nóbrega e outros jesuítas da missão do Brasil, que lhe despertaram a vontade de entrar na Ordem. Assim, no 1º de maio de 1551 tornou-se noviço da Companhia de Jesus. No ano seguinte foi permitido pronunciar os primeiros votos e ser encaminhado ao Brasil.

Integrado na terceira missão de jesuítas enviada ao Brasil, viajou na armada do 2º Governador Geral, Duarte da Costa, que substituiria o então governador Tomé de Sousa. Partiu a esquadra de Lisboa a 8 de maio de 1553 e nela sete jesuítas, os padres Luís da Grã, como superior (antigo reitor do Colégio de Coimbra), Brás Lourenço (por muitos anos superior do futuro Colégio de Santiago, em Vitória), e Ambrósio Pires junto com os irmãos António Blasquez, João Gonçalves, Gregório Serrão e José de Anchieta – o mais jovem do grupo, com apenas 19 anos de idade.

 

O padre José de Anchieta e o período de São Vicente

Nesse ano de 1553 chegara o Padre Leonardo Nunes à Salvador, proveniente de São Vicente, com a recomendação do superior padre Manuel da Nóbrega para providenciar a viagem, com a maior brevidade possível, de vários jesuítas para aquela capitania. Em São Vicente, Manuel da Nóbrega desejava concentrar a maioria dos inacianos, minimizando-se os desentendimentos com o bispo D. Pedro Fernandes Sardinha na Bahia acerca dos estilos de tratamento para com os índios. Tendo-se em vista o trabalho missionário junto das tribos indígenas do sertão, a capitania de São Vicente era tida como ponto de partida para novas frentes de missões, inclusive, rumo às terras dos guaranis, mais a sul.

 Por mais de uma década permaneceu ininterruptamente o irmão José de Anchieta dedicado às tarefas de professor de latim para formação de futuros sacerdotes, mas igualmente de catequese e português para jovens indígenas e colonos. Ele integrou o grupo dos fundadores do Colégio São Paulo de Piratininga, que ocorreu em 1554, e participou na famosa expedição de Iperuí para as negociações de paz com a confederação dos Tamoios. Esteve também presente na 1ª fundação do Rio de Janeiro em 1565, antes de seguir para a Bahia, onde completou os seus estudos e foi ordenado sacerdote em 1566.

No colégio da Bahia permaneceu cerca de um ano e meio para completar sua ordenação sacerdotal. De lá, retornou ao Rio de Janeiro em 1567, onde testemunhou a 2ª e definitiva fundação da vila. De lá, prosseguiu viagem para a capitania de São Vicente onde, sucessivamente, exerceu as funções de superior das casas da capitania, reitor de Piratininga e do colégio do Rio.

Foi Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, cargo que exerceu incansavelmente entre 1577 e 1588, o que o levou a percorrer as residências, colégios e missões jesuíticas em todo o Brasil.

O padre José de Anchieta e o período do Espírito Santo

A primeira vez que Anchieta veio ao Espírito Santo foi em 1553, quando visitou a residência de Vitória a caminho de São Vicente. Retornou em 1565 na qualidade de visitador, por ordem de Manuel da Nóbrega, e em dezembro de 1566, como parte da armada do Governador-Geral Mem de Sá que se deslocava para o Rio de Janeiro. Como Provincial, estima-se que tenha estado na capitania pelo menos uma vez por ano, tendo dado início à fixação dos jesuítas na aldeia de Reritiba [atual cidade de Anchieta] no ano de 1579, provavelmente a 15 de agosto.

No Espírito Santo, recebeu a notificação que havia sido substituído por novo provincial e aqui permaneceu como responsável pelos jesuítas da capitania entre 1587 e 1592. Centrado essencialmente no colégio de Santiago em Vitória, Anchieta pode dedicar mais tempo às questões das aldeias jesuíticas, sendo as principais Nossa Senhora da Conceição (Serra);, São João (Carapina), Reritiba (Anchieta),  Nossa Senhora da Conceição (Guarapari) e Reis Magos (Nova Almeida).

Entre 1592 e 1594, Anchieta atuou como visitador às casas dos jesuítas no sul, retornando ao Espírito Santo em seguida, onde desempenhou o cargo de superior em Vitória por mais um ano, quando obteu permissão para se retirar e poder escolher o local onde desejasse passar o restante de seus dias.

Anchieta escolheu a residência jesuítica da aldeia de Reritiba, por ele criada havia 15 anos. Ele, porém, não ficou parado. Em 1596 esteve na região da foz do rio Cricaré, onde ofereceu suporte a náufragos instalados na margem do rio. Em 21 de setembro, dia do apóstolo São Mateus, celebrou missa para eles ali, onde posteriormente se ergueria casario da vila de São Mateus.

A idade, o cansaço natural das viagens e a disciplina de trabalho que continuava a adotar debilitaram sua saúde nesses últimos anos. Retornando a Reritiba, faleceu ali no dia 9 de junho de 1597.

Sua morte fez aumentar a fama de santidade, humildade, perseverança e obediência que o povo da colônia brasileira há anos lhe atribuía. Pertence a Simão de Vasconcelos o único retrato escrito que dele nos ficou: “Foi o Padre José de Anchieta de estatura medíocre, diminuto em carnes, em rigor do espírito robusto e atuoso, em cor trigueiro [moreno], os olhos parte azulados, testa larga, nariz comprido, barba rara, mas no semblante inteiro, alegre e amável”1In Vida do Venerável, 1. V., c. XIV, § 8.